terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Interessante


Esta é a história de um ex-chefe de Estado, convencido de que o Brasil nasceu com ele e que, antes, nem chegava a ser país. Tratava-se de uma reles colônia. Um governante hábil, cercado de um imenso cordão de puxa-sacos, que beijavam suas mãos e se ajoelhavam diante dele. De certa forma, tolerava a imprensa, mas gostava de imiscuir-se na orientação dos jornais e de brigar com os jornalistas que não aceitavam suas imposições. Ai deles! Os inúmeros (e bem recompensados) adeptos do guia supremo os perseguiam e agrediam nas ruas. Mesmo gostando de aparecer, passou muito, muito tempo sem dar entrevistas. Era chefe de Estado, mas tinha profunda afinidade com os costumes do povo. Viúvo, casou-se de novo; mas sua esposa não tinha o direito de se manifestar em público. Quem mandava mesmo era a amante paulista, que nomeava e demitia, que beneficiava a família e seus protegidos, não tendo a menor preocupação com o escândalo que provocava. Era a namorada do chefe; quem não a apreciasse tinha todo o direito de obedecê-la, favorecê-la e calar-se. A-do-ra-va dar palpite na política de outros países. Trouxe para o Brasil, regiamente pagos, aventureiros internacionais para auxiliá-lo nas tarefas a que se propôs – jamais se incomodou que fossem estrangeiros. Fez seu sucessor, pessoa de boa-vontade, mas pouco eficiente – foi quem, por exemplo, prometeu gastar o que fosse preciso para levar água aos nordestinos. Se você pensou que se tratava de certo ex-presidente, enganou-se. Esta é a história de D. Pedro I, que acaba de ser exumado. (Carlos Brickmann – Jornalista)

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