quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Política e politicagem

A maioria dos moradores de Mangaratiba diz não gostar de política. Isso é compreensível, até porque vemos a todo o momento escândalos em todos os níveis de governo. A política fisiológica, que se baseia na troca de favores visando apenas interesses pessoais e partidários é hoje regra. Tudo parece estar contaminado pela politicagem que infesta o governo federal, governos estaduais e municipais. Mas essa pouca vergonha que vemos hoje nada tem a ver com política. Essa roubalheira que parece inebriar grande parte dos políticos atuais é um fenômeno conhecido como politicagem, ou, nas palavras de Ruy Barbosa, politicalha. Nessa noite de domingo, um atento observador da cena política municipal fez a seguinte comentário sobre o que costuma acontecer depois das eleições: “O grande problema do futuro prefeito é que grande parte desses candidatos que, hoje, parecem verdadeiros anjos, vão passar imediatamente a cobrar do executivo: só voto com verba”. Refletindo sobre o que ele disse, recordamos um texto escrito por Rui Barbosa há mais de um século: “A política afina o espírito humano, educa os povos no conhecimento de si mesmos, desenvolve nos indivíduos a atividade, a coragem, a nobreza, a previsão, a energia, cria, apura, eleva o merecimento.Não é esse jogo da intriga, da inveja e da incapacidade, a que entre nós se deu a alcunha de politicagem. Esta palavra não traduz ainda todo o desprezo do objeto significado. Não há dúvida que rima bem com criadagem e parolagem, afilhadagem e ladroagem. Mas não tem o mesmo vigor de expressão que os seus consoantes. Quem lhe dará com o batismo adequado? Politiquismo? Politicaria? Politicalha? Neste último, sim, o sufixo pejorativo queima como um ferrete, e desperta ao ouvido uma consonância elucidativa.Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com a outra. Antes se negam, se excluem, se repulsam mutuamente. A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis. A politicalha é a indústria de explorar o benefício de interesses pessoais. Constitui a política uma função, ou o conjunto das funções do organismo nacional: é o exercício normal das forças de uma nação consciente e senhora de si mesma. A politicalha, pelo contrário, é o envenenamento crônico dos povos negligentes e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis. A política é a higiene dos países moralmente sadios. A politicalha, a malária dos povos de moralidade estragada”. (Rui Barbosa)

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